17 agosto 2018

Zika diminui, mas só 1/3 das crianças têm assistência completa

Criança com microcefalia faz hidroterapia pela Associação Abraço a Microcefalia
Foto: Divulgação/Associação Abraço a Microcefalia
Neste ano, houve redução de 61% dos casos de zika no país em relação ao ano passado –  são 5.941 casos prováveis para 15.214 em 2017. No entanto, apenas um terço das crianças com microcefalia associada à doença recebem assistência médica completa pela rede pública.

Atualmente, há 3.194 crianças com microcefalia associada à zika no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Entre elas, 856 recebem os três serviços disponíveis pelo SUS: puericultura, estimulação precoce e atenção especializada, de acordo com o Monitoramento integrado de alterações no crescimento e desenvolvimento relacionadas à infecção pelo vírus Zika e outras etiologias infecciosas do Ministério da Saúde.

Ainda segundo o monitoramento, 62,2% das crianças estão recebendo cuidados em puericultura, 36,4% estimulação precoce e 64,9% serviço de atenção especializada.

“Quase dois terços dessas crianças não estão recebendo tratamento adequado. Há dificuldade para o acesso a medicamentos e muita burocracia para obtenção de transporte e de benefícios de prestação continuada. E, quanto mais as crianças são adequadamente estimuladas, melhor respondem”, afirma o pesquisador Gustavo da Matta, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), e coordenador da Rede Zika Ciências Sociais.

Contatado pelo R7, o Ministério da Saúde afirmou, por meio de nota, que os dados são enviados pelo gestor local. "Essas informações são monitoradas regularmente junto às Secretarias Estaduais de Saúde. No entanto, é importante destacar que esses dados informados podem não identificar, exatamente, o quantitativo real de atendimento visto que, em alguns casos, os municípios não informam corretamente aos Estados e estes não conseguem manter a informação atualizada junto ao Ministério da Saúde".

Para dar assistência às crianças, o Ministério ainda informou que a pasta tem ofertado "não só assessoria técnica, mas também recursos financeiros". "O Ministério da Saúde repassou R$ 11,8 milhões aos Estados e municípios, com o objetivo de fortalecer os serviços de avaliação, diagnóstico e acompanhamento dos casos confirmados e em investigação neste momento. Foram destinados cerca de R$ 2,2 mil de recursos para cada criança investigada".

A maioria dos casos notificados de microcefalia no Brasil concentra-se na região Nordeste (59,7%). Em seguida estão o Sudeste (24,5%) e o Centro-Oeste (7,3%). Os cinco Estados com maior número de casos notificados são Pernambuco (16,7%), Bahia (16,1%), São Paulo (9,4%), Paraíba (7,1%) e Rio de Janeiro (7,1%), segundo o monitoramento.

Para Joana Passos, mãe de uma criança com microcefalia e fundadora-presidente da Abraço a Microcefalia, em Salvador, na Bahia, a burocracia e a falta de continuidade dos tratamentos são as principais dificuldades enfrentadas pelas famílias que têm que lidar com a doença.