Dois policiais militares tentam imobilizar um homem. Um deles dá uma gravata (golpe de ataque com os braços no pescoço do alvo) e aperta para fazer o homem se render. “Não pode enforcar, ele vai desmaiar!”, grita uma mulher, em desespero.
O caso aconteceu na última terça-feira (23/6) no bairro Jardim Icaraí, na cidade de Ibaté, próxima a Araraquara, no interior de São Paulo, e distante 247 quilômetros da capital paulista.
As imagens mostram os dois policiais em cima do homem. Ele não dá sinais de que esteja resistindo à prisão, mas, ainda assim, recebe o golpe para ser desmaiado.
“Vão matar o cara enforcado”, insiste uma mulher. “Ele está ficando roxo, ficando preto”. A mãe da vítima tenta falar com os policiais e impedir o golpe, mas leva um tapa.
“Tira a mão de mim”, gritou o PM que golpeia o homem. Em seguida, deu um tapa na mão da mulher. Na sequência, o policial derrubou o homem no chão e seu parceiro tentou algemá-lo.
A população se revolta ao ver a abordagem policial. “Tem que prender e algemar, mas não pode enforcar, não. O errado é só o cidadão depois”, critica uma mulher ao registrar as imagens.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo Doria (PSDB), as cenas aconteceram durante a prisão de um homem foragido.
A pasta explica que o homem estava em um carro quando foi abordado e que teria tentando fugir, motivando a ação dos policiais.
“Quando solicitado para que desembarcasse do automóvel, o procurado tentou fugir correndo, mas foi contido pelos agentes, sendo necessário o uso de força proporcional para a conclusão da detenção”, defende a secretaria.
A nota enviada à Ponte explica que, depois da prisão, os PMs o levaram para a delegacia da cidade, onde registraram ocorrência de prisão de foragido.
A reportagem pediu análise ao tenente-coronel Adilson Paes de Souza, aposentado da PM paulista. “Tudo errado”, definiu. “Por que agiram assim? Imobilizou, algema. Simples assim. Se está no solo, mais fácil ainda. Mãos para trás e algema, não acontece nada mais”, explica Souza.
O policial aposentado diz que o caso é agravado pela morte de George Floyd, homem negro americano asfixiado por um policial branco nos Estados Unidos, e pelo caso recente dos PMs que deram um golpe idêntico e desmaiaram um homem em Carapicuíba, na Grande SP.
“Mesmo com todos esses fatos estão fazendo abordagens da mesma maneira. Um absurdo”, afirma. “Nunca vi uma época com a polícia cometendo tantos erros graves assim. É uma coisa que causa preocupação imensa e espanto”, lamenta.