09 agosto 2020

Agressor de motoboy também ofendeu pedreiros e seguranças em condomínio, dizem vizinhos

 

(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)

O homem de 31 anos que aparece em vídeo agredindo verbalmente um motoboy na última semana em um condomínio de luxo em Valinhos, no interior de São Paulo, é citado por vizinhos como agressor de outros trabalhadores — entre eles pedreiros que atuavam em obras do residencial e seguranças de um centro comercial próximo ao local. Há dois anos, o pai registrou em um processo judicial que o filho é doente e que sofre de esquizofrenia.

O vídeo de 1 minuto e 36 segundos viralizou nesta sexta-feira na internet e tornou-se o assunto mais comentado do Twitter. As imagens foram postadas no perfil do Facebook da mãe do jovem agredido que, indignada, se disse interessada em “deixar famoso” o homem de camisa azul que “xingou e humilhou um trabalhador, se achando melhor que ele porque mora em um condomínio de luxo”.

Por volta de 16h da última sexta-feira, o jovem de 19 anos chamou a polícia por se considerar vítima de crime de injúria racial praticado pelo homem, a quem realizava uma entrega de refeição solicitada por meio de aplicativo.

Do outro lado da rua, uma pessoa gravou o momento em que o homem pergunta ao entregador quanto ele ganha por mês. E o ofende dizendo que ele teria inveja da condição social dos moradores daquele condomínio.

"Você nem tem onde morar. Você tem inveja disso daqui. Eu pedi para ele [Matheus Pires] sair fora daqui, e não saiu fora. Moleque, moleque, você tem inveja disso daqui, você tem inveja dessas famílias aqui”, diz o homem, mostrando as casas do condomínio.

E continua:

“Você tem inveja disso”, diz, apontado para a pela branca de seu braço.

O motoboy reage às agressões, dizendo que o morador não o conhece, muito menos sabe de sua condição social. Ele também pergunta se o morador trabalhou para conseguir o patrimônio que tem ou se teria herdado da família.

Acionada, a Guarda Civil Metropolitana foi ao local e deparou-se com uma" tensa discussão entre as parte", de acordo com o comando do grupamento. Após presenciar mais agressões do morador ao jovem, os guardas decidiram conduzi-lo à 1ª Delegacia de Polícia de Valinhos, onde foi registrado boletim de ocorrência de crime de injúria praticado pelo morador.

O GLOBO apurou que o agressor mora sozinho na casa alugada na Vila Bela Vista, condomínio fechado de casas com apenas uma rua, em Valinhos. Ele é o mais jovem de três filhos do primeiro casamento de um empresário paulistano que enriqueceu como diretor de uma empresa de tecnologia que detém contratos com vários órgãos de governo.

No vídeo, o morador do condomínio menciona ter herdado parte da riqueza da família, como forma de se diferenciar socialmente do motoboy.

MAIS AGRESSÕES

De acordo com vizinhos, ele foi protagonista de episódios anteriores de agressão a trabalhadores diversos, como pedreiros que atuam em obras no local. Ele também já se envolveu em uma briga com o segurança de um centro comercial localizado próximo ao condomínio.

— A perda de controle emocional e de seus atos é frequente, o que nos leva a questionar até mesmo seu estado de saúde – disse um dos vizinhos, que pediu para não ser identificado.

De fato, em março do ano passado, o morador foi à delegacia para denunciar o furto de seu carro, um Honda FIT preto ano 2014. Vinte dias depois, o pai compareceu à delegacia para informar que o veículo na verdade estava em uma oficina mecânica.

Na ocasião, informou que o filho “sofre de esquizofrenia e tem episódios de crise, perdendo a noção da realidade”. Para ele, este era o motivo “do mesmo ter confeccionado o boletim de furto do veículo”.

Na última sexta-feira, quando um representante da Guarda Municipal perguntou ao jovem sobre qual seria a razão do desentendimento com o morador, ele relatou que a discussão começou justamente quando ele decidiu reclamar da maneira hostil como eram tratados todos os motoboys que iam até a sua residência fazer qualquer tipo de entrega.

Em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo no interior de São Paulo, o motoboy disse também ter sido vítima de cusparadas do agressor, que não foram flagradas no vídeo. "Antes, ele cuspiu e jogou a nota fiscal do restaurante em mim", contou. Procurada, a mãe do jovem não quis dar entrevista.

O GLOBO enviou mensagens a vários integrantes da família do agressor, mas eles não retornaram os contatos da reportagem. Dona de uma empresa de eventos corporativos, a madrasta do rapaz disse que o caso seria resolvido apenas judicialmente.

— O caso já está na delegacia, e será resolvido por lá. Realmente prefiro não me envolver com este assunto — disse a mulher.

De acordo com o colunista do Globo, Lauro Jardim, a rede de entregas Ifood cancelou o perfil de usuário do agressor, após a divulgação do vídeo.